Israel: violência em Hebron é obstáculo para acordo de paz


Hebron, a maior cidade da Cisjordânia ocupada, foi sacudida nessa segunda-feira (26) por atos violentos que resultaram na morte de três palestinos, o primeiro tropeço para o acordo diplomático para conter a espiral de violência na região. Este setor é palco há semanas de confrontos entre palestinos, de um lado, e colonos judeus e o exército israelense, do outro, sobre os quais o acordo diplomático anunciado no sábado (24) não parece surtir efeito.
Dois palestinos foram mortos na segunda-feira, perto de Hebron, após ter realizado ataques com armas brancas, segundo o exército. Um israelense ficou gravemente ferido em um deles. Além disso, um jovem palestino de 17 anos foi morto a tiros em uma cidade próxima a Hebron, em um dos confrontos com o exército israelense, muito habituais na região, destacaram a polícia e os serviços de socorro palestinos.
Hebroné um verdadeiro barril de pólvora, onde 500 colonos israelenses vivem entre os palestinos, atrás de torres de vigilância e cercas de arame farpado. Ali também se encontra a Tumba dos Patriarcas, local reverenciado por judeus e muçulmanos, e fonte de grandes tensões. Fora da cidade, o conflito é quase permanente entre palestinos e israelenses das colônias, como a de Kyriat Aba.
Também nesta segunda-feira, o exército israelense lançou à noite um ataque aéreo na Faixa de Gaza contra alvos do movimento islâmico palestino Hamas, após o disparo de um foguete do enclave contra o sul de Israel, segundo um comunicado militar. Fontes palestinas reportaram alguns danos, mas nenhuma vítima.
Desde 1º de outubro, a onda de violência nos Territórios Palestinos, Jerusalém e Israel deixaram 56 mortos entre os palestinos – a metade, autores de atentados – e 8 mortos israelenses, além de um árabe-israelense e um eritreu, o último confundido com um “terrorista”.
Diante do risco de um conflito generalizado, a comunidade internacional e as autoridades israelenses e palestinas concentraram seus esforços na Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém, por medo de ativar, como em 2000, o estopim de uma nova intifada.
No sábado, os Estados Unidos presidiram um acordo entre Israel, que controla o acesso ao local, e a Jordânia, guardiã dos locais sagrados de Jerusalém. Israel aceitou a instalação de câmeras de vigilância que funcionem 24 horas por dia na Esplanada.
Ingerência israelense
Este acordo deu lugar às primeiras notas dissonantes quando Israel e a fundação islâmica que administra a Esplanada se acusaram mutuamente de querer aplicá-lo cada um à sua maneira. A discórdia, vinculada à questão fundamental sobre quem deve controlar este local ultra-sensível, explodiu quando a fundação jordaniana (Waqf) iniciou nesta segunda-feira a instalação de câmeras de vídeo.
Enquanto “começamos a instalação (nesta segunda-feira) de manhã, chegou a polícia (israelense) para deter os trabalhos, argumentando que isto estava proibido”, disse à Otan o xeque Azam al Jatib, chefe do Waqf. O mesmo condena “vigorosamente a ingerência israelense”. “Consideramos que este assunto confirma que Israel pretende instalar apenas câmeras que sirvam aos seus interesses”, denunciou.
A instalação “deve ser coordenada” entre as partes envolvidas, respondeu o gabinete do premiê israelense, Benjamin Netanyahu. Esta questão das câmeras foi a única medida concreta anunciada pelo secretário de Estado americano, John Kerry, após seus encontros em separado com os principais atores: Netanyahu, o presidente palestino Mahmud Abbas e o rei Abdullah II, da Jordânia.
Não há outra autoridade
O gabinete de Netanyahu não se privou de citar Kerry: equipes técnicas israelenses e jordanianas terão que “se encontrar muito em breve” para discutir a adoção desta ideia da Jordânia. O Waqf age sob ordens do palácio real jordaniano, disse o chefe da fundação. Amã não fez comentários. “Não há outra autoridade na Esplanada” além do Waqf, acrescentou.
Esta disputa ilustra até que ponto qualquer novo arranjo sobre a Esplanada é complicado de aplicar. A Esplanada fica em Jerusalém oriental, parte palestina da cidade santa, ocupada por Israel, com a oposição da comunidade internacional. É no coração espiritual desta parte da cidade que os palestinos querem instalar a capital de seu futuro Estado.
Palestinos e jordanianos afirmam que Israel quer mudar o regulamento (‘statu quo’) do local, o que Netanyahu nega. “Os palestinos não estão dispostos a pôr um fim ao conflito, nem a renunciar ao sonho de um Estado (próprio), não ao lado de Israel, mas no seu lugar”, afirmou Netanyahu nesta segunda-feira, durante homenagem a Isaac Rabin, primeiro-ministro israelense assassinado em 4 de novembro de 1995 por um extremista judeu.
Várias cerimônias oficiais foram realizadas para lembrar os 20 anos deste assassinato que, pelo calendário judaico, coincidiu com o sábado passado.
A chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, recebia na noite desta segunda-feira em um jantar de trabalho o presidente Abbas para tratar da adoção de “medidas concretas” para levar a calma ao Oriente Médio e a forma como a UE “pode contribuir para uma ‘desescalada'” da violência na região.
Fonte: Correio Braziliense